quinta-feira, 2 de maio de 2013

Pelo não direito à greve


Diz-se que a greve é um direito que assiste a todos os trabalhadores. Os trabalhadores têm direito a manifestarem-se sempre que quiserem de modo a que possam fazer uma greve. Mas em que consiste efetivamente fazer uma greve? Significa acabar impedir que outros usufruam de serviços públicos em detrimento de um número de trabalhadores que não querem trabalhar por motivos puramente políticos? As greves que se instalam e que proliferam são resposta de um certo número de funcionários públicos. Isto é, se eu for funcionário do setor privado não poderei fazer greve porque terei o meu lugar em risco, ao contrário do setor público.
A greve muitas das vezes deve-se a discordâncias políticas com certas decisões que não agradam ao setor público. Os cidadãos têm direito à greve e direito a se manifestarem. Não têm, pois, direito sendo um pequeno grupo de prejudicar um todo. Por exemplo, se os transportes públicos de um país fizerem greve um dia inteiro, muitas pessoas serão impedidas de irem trabalhar, serão impedidas as pessoas que querem trabalhar mas não podem porque um certo grupo de pessoas as impede de irem trabalhar porque não há transportes para as pessoas se deslocarem para o trabalho.
Um dos motivos da greve é político. Se o governo tomar uma decisão, qualquer que seja, em primeiro lugar o que os sindicatos fazem é convocar uma greve. Pensam que é mais importante convocar uma greve que pensar em alternativas que possam mudar a decisão do governo. Em primeiro lugar é fácil fazer uma greve, pois está consagrada na lei fundamental do país – tanta coisa está consagrada na lei fundamental do país e nunca foi aplicada. Segundo porque os sindicatos não possuem nenhuma alternativa à greve, pois não conseguem o diálogo com o governo ou vice-versa. Terceiro, porque os sindicatos devem proteger os trabalhadores, não apenas reivindicando direitos, mas tentando que haja uma repartição justa entre deveres e direitos. Quarto ponto, sindicatos estão ligados a partidos de esquerda, fazendo com que sejam uma fonte ideológica, não são imparciais.
A minha dúvida não é quanto à existência de greve ou não. O meu problema é a greve ser feita por um pequeno número de pessoas que prejudiquem um grande número de pessoas. Mas é também um problema ideológico dos sindicatos. Qual é efetivamente a diferença entre um partido de extrema-esquerda e um sindicato? Será a diferença apenas o nome? Não estou a afirmar que os sindicatos devam ser erradicados ou abolidos. Porque considero que têm um papel fundamental nas reuniões de concertação social com o governo. É tão notório o poder de um sindicato obsoleto do mesmo modo que é notório o poder da maçonaria em certos partidos políticos. Refiro-me com isto ao imenso poder que têm os sindicatos e a maçonaria. Embora o primeiro seja um grupo que não é secreto, e a maçonaria é um grupo secreto com intensões que pouco de sabe quais são.
É mais importante fazer greves para que se possa abalar as decisões de um governo ou é mais importante que os cidadãos possam participar ativamente na vida pública? O importante numa democracia é pensar em alternativas ao poder vigente – independentemente de quem seja a governar, se acharmos que o governo está a seguir um caminho errado, de modo a ser pouco democrático – que devem ser dialogadas entre os cidadãos. É normal que surjam pequenos movimentos que contestem isto ou aquilo. Não estou a dizer que se deve negar que isso aconteça. Participar numa democracia não é apenas fazer uma greve ou uma manifestação de rua, participar numa democracia é debater os problemas que um país tem. A participação exige que se pense em alternativas a um poder que poderá estar a aniquilar a democracia. Nessa participação terá que existir: conhecimento da realidade económico-social, conhecimento da história, conhecimento da cultura, conhecimento da política e que as pessoas sejam educadas numa cidadania cívica e democrática constante. Esse papel da democratização deve começar nos bancos da escola. Não é apenas democrático que existam greves, mas igualmente que se pense no que se está a fazer e nos caminhos que devem ser evitados.
Estou a propor algo do género: os sindicatos que possam participar ativamente na vida pública, não apenas reivindicando direitos, mas tendo em atenção aos deveres dos trabalhadores. O problema da democracia é um problema basilar que atravessa toda a sociedade. A democracia não é nem de direita nem de esquerda. Direita ou esquerda é a forma que os diversos governos atuam: começando pelo socialismo (extrema esquerda), passando para a social-democracia (centro esquerda), liberalismo (centro direita). Se uma democracia tender para algum dos espetros que referir – socialismo, social-democracia ou liberalismo – perderá a essência da democracia e passará a mera ideologia.

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